No congresso do PS em Matosinhos, José Sócrates deu imensas «garantias»
sobre variadíssimas coisas.
E fê-lo cheio de convicção, como se acreditasse no que dizia.
E os que o escutavam pareciam também acreditar.
Não seria aquele o mesmo homem que, dois dias antes de pedir ajuda
externa, afirmava que Portugal não precisaria de fazer nenhum empréstimo ao
estrangeiro?
Em Matosinhos, Sócrates proclamou também que o PS vai salvar o país da
crise em que a «irresponsabilidade da oposição» o mergulhou.
E atacava o comportamento do PSD, enfatizando: «Nós não vamos deixar que
se esqueça o passado».
E dizia isto sem se rir.
Como se não fosse o mesmo homem que chefiou o Governo durante os
últimos seis anos.
Sócrates dirá estas coisas com convicção ou com calculado cinismo?
Fá-lo-á inconscientemente ou terá plena consciência do que está a fazer?
Estará alucinado ou será um propagandista bem ciente do seu papel?
O caso é grave.
Ao assistir ao que se passava naquele salão de Matosinhos, eu interrogava-
me: o PS não corre o risco de ser empurrado para uma aventura por um
homem obcecado, megalómano e ansioso por uma revanche?
Aquele ambiente de hiper-excitação e glorificação acéfala do líder não será o
prenúncio do fim?
SERÁ que no PS está tudo bom da cabeça?
SERÁ que o PS se esqueceu de que, nos últimos 15 anos, esteve 12 no poder?
E de que valem as garantias de alguém que, por isto ou por aquilo, não
cumpriu quase nenhuma das promessas que fez?
As suas promessas foram caindo uma a uma: a baixa dos impostos, o
crescimento da economia, as grandes obras públicas, a diminuição do
desemprego, a criação de 150 mil novos postos de trabalho, a redução do
défice, etc., etc.
As raras promessas que Sócrates cumpriu foram as mais fáceis: a
despenalização do aborto e o casamento dos homossexuais.
Percebe-se que as pessoas continuem a apreciar a sua energia, a sua
combatividade, a sua resistência, o seu jeito para virar as culpas contra os
adversários, o seu talento de vendedor, até o seu cinismo; mas depois de todas
as cambalhotas a que assistimos, alguém de boa-fé poderá ainda acreditar nas
suas garantias ?
De há três anos para cá, José Sócrates perdeu a capacidade de se antecipar
aos acontecimentos - e passou a correr como um louco atrás deles.
Começou a tentar tapar com medidas avulsas os buracos que iam surgindo.
E, através de uma propaganda agressiva e dispendiosa, tentou criar uma
realidade artificial.
Mas a realidade acaba sempre por se impor - e o Governo viu-se forçado a
lançar mão de sucessivos PECs.
Sentia-se que o país escorregava num plano inclinado do qual não conseguia
sair.
Por essa razão, muita gente sentiu-se aliviada com o pedido de ajuda externa:
era preciso interromper aquela correria sem fim à vista.
Agora, o líder socialista continua a correr desvairadamente atrás de uma
quimera.
Recauchutado, apresenta-se como novo às eleições.
Na história que conta, tudo corria bem em Portugal - até que a oposição, num
acto irresponsável, lançou o país na desgraça.
E os socialistas fingem acreditar, porque é o que querem ouvir.
No discurso final do Congresso, quando se esperava uma intervenção
cautelosa chamando os portugueses à realidade, abrindo as portas a futuros
compromissos, preparando o país para as dificuldades que aí vêm, Sócrates
não resistiu a ser ele próprio: fanfarrão, glorificando a sua governação,
espadeirando à direita e à esquerda, prometendo mundos e fundos.
Sócrates não parecia um candidato a primeiro-ministro: parecia o pastor de
uma igreja evangélica.
E o Congresso do PS não parecia o Congresso de um partido político: parecia
um encontro da IURD.
Jaime Gama foi o único que mostrou lucidez.
O resto dos socialistas quer continuar a viver no reino da ilusão.
Helena Dias
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