OS GRANDES PROBLEMAS NACIONAIS E O SEU ESCALONAMENTO NECESSÁRIO (1928). (Discurso aos oficiais da Guarnição Militar de Lisboa, em 9 de Junho)
Estamos hoje numa situação má. Di-lo toda a gente e era escusado: na vida individual, na qualidade e na pública as dificuldades que dessa má situação resultam sentem-se, palpam-se, todos nós lutamos com elas.
Vamos relacionar, para melhor ajuizarmos, todo este mal-estar, com quatro problemas fundamentais: o financeiro, o económico, o social e o politico. Pu-los por esta ordem e isso não foi arbitrário da minha parte; esta simples disposição revela uma orientação definida. È certo que não é possível fazer boas finanças sem boa política: que uma finança sã requer uma economia próspera; que a questão social; agravada por sua vez, prejudica os problemas financeiros e económicos. Mas, porque não podemos resolvê-los todos de uma só vez, necessário é discutir e assentar na ordem e solução. Essa ordem será indicada, na interdependência das causas e dos efeitos dos problemas, em harmonia com a causa dominante. É sabido que as emissões exageradas desvalorizam a moeda. E o que è essa desvalorização? É o metro elástico introduzido na vida económica. Suponhamos um comerciante a vender com um metro elástico. Acontecia que umas vezes ficava roubado o freguês e outra seria prejudicado o comerciante. Pois as altas e baixas das moedas opera delapidações semelhantes. Com uma moeda instável não há economia que vingue e possa prosperar. Por este processo se tornou o Estado o grande inimigo da economia nacional.
Atravessamos uma grave crise económica, cujas principais causas foram essa instabilidade monetária, a alta dos juros do dinheiro e a escassez provocada pela desvalorização da moeda, que ao mesmo tempo que opera na sociedade transferências de fortunas, consome em geral grandes somas de capitais. O comércio e a indústria tiveram durante algum tempo disponibilidades enormes: parecia que os comerciantes não acabavam de enriquecer. Todas as empresas pareciam prósperas; afinal muitos vieram a verificar que se tratava de riqueza ilusória e estavam na verdade empobrecidos: tinham distribuído e gasto o seu próprio capital. Salvaram-se das despesas apenas aqueles que em dada altura conseguiram converter os lucros em valores estáveis. E o Estado, que perdeu muito, ganhou também alguma coisa – a diminuição da sua dívida corresponde ao valor em que lesou os seus credores.
Todos estes males têm somente uma cura – a estabilização da moeda, e esta é impossível. Independentemente da solução do problema financeiro. Da não resolução do problema financeiro e económico resultou como não pode deixar de ser, graves perturbações sociais.
O problema social é o problema da distribuição de riqueza, que não tem solução vantajosa sem o aumento da produção. Salvo o caso de parisatismos económicos, que devem ser evitados e corrigidos, só o aumento de riqueza pode favorecer a solução da questão social. Finalmente, o problema político. Andamos há muitos anos em busca de uma fórmula de equilíbrio e ainda não conseguimos encontrá-la. È como se diz que “em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão”, as soluções políticas são mais difíceis estando agravados os problemas financeiro, económico e social. Não há mesmo formas políticas que satisfaçam uma sociedade em que aqueles problemas estão a reclamar urgente solução, porque a verdade é que encontrar a fórmula de equilíbrio depende da organização prévia das diferentes forças económicas e sociais.
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