quinta-feira, 21 de abril de 2011

JAQUES AMAURY - UMA VISÃO DO EXTERIOR DA CRISE PORTUGUESA

Este conhecido sociólogo e filosofo francês, Jaques Amaury, professor na Universidade de Estrasburgo, publicou recentemente um estudo sobre “A crise Portuguesa”, onde elenca alguns caminhos, tendentes a soluciona – la.
“Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.
Importa em primeiro lugar averiguar as causas. Devem – se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união.
Foi o país onde mais a CE investiu “per capita” e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou a esmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.
Os dinheiros foram encaminhados para auto estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições publico - privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração publica, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.
A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando – se num enorme peso bruto e parasitário. Assim, a monstruosa Função Publica, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos aguerridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram – se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país.
Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido Socialista) que está no Governo e o PSD (Partido Social Democrata), de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo líder, que tem um suporte estratégico no PR e no tecido empresarial abastado. Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com telhados de vidro e linguagem publica, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira oportunidade. À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio. Mais à esquerda, o PC (Partido comunista) vilipendiado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais.
Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré – fabricada não encontra novos instrumentos.
Contudo, na génese deste beco sem aparente saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral e determinante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos órgãos de Comunicação. Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comercio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países.
Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o “chefe” recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres.
A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e Tv oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais democratas, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem lenta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória.
Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, “non gratas” pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfano que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia.
Só uma comunicação não vendida e alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios.

3 comentários:

  1. "(...) os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes (...)"

    Isto acontece um pouco porque não há brio em ser político. Já existe há muito tempo uma imagem generalizada de que o político é mentiroso e corrupto. É encorajado a mentir para ganhar votos, e não é punido quando o faz. Não há honra em ser político.
    É curioso que a classe que tem a maior das responsabilidades - que é governar - é a menos respeitada na sociedade. Há, portanto, uma tendência para os mais competentes se estabelecerem e singrarem noutras áreas, onde há real prestigio, enquanto os mais medíocres se acumulam em grupos (vulgo partidos) e "esperam a sua vez" pelo controlo da nação. É certo que há excepções...

    "(...) não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré-fabricada não encontra novos instrumentos."

    Se a democracia pré-fabricada não ganha força, é porque já não se adapta às vontades e necessidades da sociedade, e portanto um novo paradigma democrático é necessário.

    "(...) a ignorância de uma população deixada ao abandono (...) não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos órgãos de Comunicação. Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país."

    Falta a iniciativa. Falta vontade de mudar para melhor. As pessoas não se querem chatear muito. Se a senhora na televisão diz que é assim, é porque deve ser assim. Felizmente que este fenómeno tem tendência para diminuir, graças à internet.
    Veja-se o caso dos islandeses que se reuniram todos os dias à porta da assembleia, mandaram o governo abaixo e elegeram uma nova assembleia independente. Eles não foram na cantiga de pagar pelos erros do sistema bancário.

    Aqui está um homem lúcido. Desde a corrupção inerente ao sistema partidário, ao peso excessivo das forças armadas no orçamento, à falta de imparcialidade dos media, à falta de discernimento e proactividade na sociedade, este senhor acertou em tudo. Os últimos dois parágrafos são perfeitos.

    Num à parte, fico impressionado como é que alguém de fora de Portugal pode ter uma imagem tão nítida (mesmo para um cidadão informado) sobre o estado do nosso país.

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  2. Caros senhores, este suposto professor não consta da lista de profs. da Universidade de Estrasburgo. Aliás, nem era preciso muito para perceber que o texto é falso - um estrangeiro nunca escreveria assim, com tanto detalhe mesquinho, só mesmo um português ressabiado. Antes de publicarem textos falsos, deviam verificar a veracidade (a não ser que sejam os senhores os seus autores). A cobardia não fica bem a ninguém! Assumam.

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  3. E tu "Miguel", porque não te assumes???
    A cobardia não fica bem a ninguém!"
    Tu o disseste!
    Na mouche!

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