Em Maio de 1945, quando o último tiro foi disparado e a bandeira soviética içada sobre as ruinas de Reichstag em Berlim, formulei como milhões de jovens em todo o mundo a pergunta: Como foi possível?
Muitos leitores ficarão chocados por evocar, a propósito da crise Portuguesa, o que se passou na Alemanha a partir dos anos 30.
São outros o contexto histórico, os cenários, a dimensão das personagens e os efeitos.
Mas hoje também em Portugal se justifica a pergunta «Como foi possivel?».Sim. Que estranho conjunto de circunstâncias conduziu o País ao desastre que o atinge? Como explicar ao povo que foi sujeito da Revolução 25 de Abril tenha hoje como Primeiro-ministro, transcorridos 35 anos, uma criatura com José Sócrates? Como podem os Portugueses suportar passivamente há mais de cinco anos a humilhação de uma politíca autocrática, semeada de escândalos, que ofende a razão e arruina e ridiculariza o País perante o Mundo?
O descalabro ético socrático justifica outra pergunta: como pode um Partido que se chama Socialista (embora seja neo-liberal) ter desde o início apoiado maciçamente com servilismo, por vezes com entusiasmo,e continuar a apoiar, o desgoverno e depautérios do seu líder, o cidadão Primeiro-ministro?
Portugal caíu num pântano e não há resposta satisfatória para a permanência no poder do homem que insiste em apresentar um panorama triunfalista da política reaccionária responsavél pela transformação acelarada do País numa sociedade parasita, super endividada, que consome muito mais do que produz.
Pode muita gente concluir que exagero ao atribuir tanta responsabilidade pelo desastre a um indivíduo. Isso porque Sócrates é, afinal, um instrumento de grande capital que o colocou á frente do Executivo e do imperalismo que o tem apoiado. Mas não creio neste caso empolar o factor subjectivo.
Não conheço precedente na nossa História para a cadeia de escândalos maiúsculos em que surge envolvido o actual Primeiro-ministro.Ela é tão alarmante que os primeiros, desde o mistério do seu diploma de engenheiro, obtido numa universidade fantasmática( já encerrada), aparecem já como coisa banal quando comparada com as mais recentes.
É afinal um escândalo velho, que o Presidente do Supremo Tribunal e o Procurador-geral da República tentaram abafar, mas que retomou actualidade quando um semanário divulgou excertos de escutas do caso Face Oculta.
Alguns despachos do procurador de Aveiro e do juiz de instrução criminal do Tribunal da mesma comarca com transcrições de conversas telefónicas valem por uma demolidora peça acusatória reveladora da vocação liberticida do governo de Sócrates para amordaçar a Comunicação Social.
Desta vez o Primeiro-ministro ficou exposto sem defesa. As vozes de gente sua articulando projectos de controlo de uma emissora de televisão e do afastamento de jornalistas incómodos estão gravadas. Não há desmentidos que possam apagar a conspiração.
Um mar de lama escorre dessas conversas, envolvendo o Primeiro-ministro. A agressiva tentativa de defesa deste afunda-o mais no pântano. Impossibilitado de negar os factos, qualifica de «infame» a divulgação daquilo a que chama »conversas privadas».
Basta recordar que todas as gravações dos diálogos telefónicos de Sócrates com o banqueiro Vara, seu ex-ministro foram mandadas destruir por decisão (lamentavél) do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, para se ter a certeza de que seriam muitíssimo mais comprometedoras para ele do que as «conversas privadas» que tanto o indignam agora, divulgadas aliás dias depois de, num restaurante,ter defendido, em amena «conversa» com dois ministros seus, a necessidade de silenciar o jornalista Mário Crespo da SIC Notícias.
Não é apenas por serem indesmentíveis os factos que este escândalo difere dos anteriores que colocaram José Sócrates no banco dos réus do Tribunal da opinião pública.
O cidadão José Sócrates tem mentido repetidamente ao PAÍS, com desfaçatez e arrogância, exibindo não apenas a sua incompetência e mediocridade,mas, o que é mais grave, uma debilidade de caractér incompatível com a chefia do Executivo.
Repito: como pode tal criatura permanecer como Primeiro-ministro?
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