sábado, 21 de janeiro de 2012

WARREN BUFFET - ONDE INVESTE E NÃO INVESTE O SEU DINHEIRO

Para o bilionário Warren Buffett, a euforia com a subida do ouro não justifica a entrada do ativo no portfólio de nenhum investidor. As acções dos bancos devem perder apelo nos próximos anos e a poupança em títulos públicos deve ser entendida como um colchão de liquidez.
Foi pontuando seu discurso com frases assim que um octogenário Buffett falou a cerca de 40.000 espectadores na reunião anual da Berkshire Hathaway. Conhecido como "Woodstock dos capitalistas", o encontro reuniu milhares de accionistas da holding na pequena Omaha, Nebraska, onde nasceu e ainda vive o megainvestidor.
Confira, a seguir, os pontos altos da reunião.

Ouro não impressiona

Segundo Buffett, o resultado da recolha e fundição de todo o ouro do mundo será um cubo com quase 20,5 metros de cada lado. "Você pode pegar numa escada,subir até o topo e dizer que está sentado no alto do mundo. Você pode polir esse cubo, afagá-lo e ficar admirando-o", disse o bilionário. Mas apenas isso.
"O ouro não tem valor intrínseco. Comprar commodities como o metal é apostar que alguém chegará para pagar mais depois", sentenciou. Para o Oráculo de Omaha, a crença no ouro é em grande parte especulativa, ao contrário do investimento em empresas que têm linha de produção.
"Há de ter algo peculiar com um ativo que só vai para cima se o restante do mundo está a ir para baixo", acrescentou Charlie Munger, vice-presidente da Berkshire.

Por que a queda do dólar não o assusta

Não há como fugir do enfraquecimento do dólar, já que o poder de compra da moeda norte-americana inevitavelmente cairá com o aumento da inflação. Buffett acredita, no entanto, que esse não é um prenúncio do fim.
"Não gosto de inflação", afirmou. "Mas venho-me adaptando a ela nos últimos anos". Para o megainvestidor, outras moedas à volta do mundo também vão ficar mais baratas. E como ele não tem um palpite seguro sobre a possibilidade do dólar cair ainda mais, a Berkshire não irá apostar contra a moeda norte-americana.

Petróleo não enche os olhos

Quando perguntado se deveria apostar a favor ou contra o petróleo, Buffett reiterou que pouquíssimas commodities são previsíveis a ponto dos investidores saberem qual a direcção que os ativos irão tomar nos próximos seis meses ou um ano. "Algumas subsidiárias da Berkshire já fazem hedge com o petróleo? e estamos mais do que satisfeitos com isso", explicou.
"Preços em alta podem ser contagiosos e influenciar comportamentos. Mas preços em alta, em si, não são a melhor forma de investir para o futuro", sustentou. "Eu realmente acho que um investidor inteligente pode ganhar mais dinheiro ao longo do tempo com ativos produtivos do que especulando com commodities."

Papéis da dívida norte-americana são necessários

Com dinheiro em caixa de cerca de 22 biliões de dólares em títulos do Tesouro americano, Buffett reconheceu que não está a ganhar quase nada com o investimento, que rendem pouca taxa de juro. Mas fez ressalvas. "Essa é apenas uma vaga de estacionamento. Sabemos que vamos tirar nosso carro daí assim que precisarmos", disse, chamando atenção para os benefícios proporcionados pela liquidez da aplicação nos papéis da dívida norte-americana. Em 2008, foi justamente com esse colchão que permitiu a injecção de generosas quantidades de dinheiro na General Electric e na Goldman Sachs, aplicações que rendem hoje dividendos de 10% ao ano à Berkshire.

Bancos perderam o apelo

O investimento em bancos é muito menos atrativo que já foi um dia. "Uma razão importante para isso é que a alavancagem irá diminuir. Essa é provavelmente uma coisa boa para a sociedade", afirmou Buffett. "Mas pode ser ruim para os bancos que usam essa possibilidade de uma maneira inteligente."
Ainda assim, o bilionário elogiou as duas instituições financeiras que fazem parte da carteira da holding. "Ainda pensamos que o Wells Fargo e o U.S. Bank são operações muito boas".

Pagamento de dividendos fica para depois

A preferência da holding por companhias que pagam bons dividendos não é surpresa para ninguém. Na carta anual endereçada aos seus accionistas, Buffett afirmou que em dez anos há uma grande oportunidade da Berkshire ganhar mais dinheiro com os dividendos anuais da Coca-Cola que o investido na compra original destas acções. Diante da política de amealhar fortunas com o recebimento de parte dos lucros das companhias, muitos se perguntam por que o bilionário também não reparte dividendos entre seus acionistas como forma de recompensá-los.
Na reunião da Berkshire, Buffett disse que a distribuição de lucros será o sinal de que o conglomerado já não tem mais onde colocar dinheiro. Apesar de não ter afastado essa possibilidade, ele sustentou que isso não irá acontecer por agora.
"Vai chegar um tempo em que pensaremos em algo recompensador para nossos accionistas quando não podermos ganhar mais de 15 a 20 biliões de dólares por ano com o investimento em empresas", disse. "Quando isso acontecer nossa acção deverá cair, já que essa é uma admissão que o crescimento terá estagnado."
Enquanto isso, recomendou Buffett, quem quiser incrementar o caixa deve simplesmente vender algumas de suas ações ao invés de esperar por uma política consistente de distribuição de dividendos por parte da Berkshire.

Sobre filantropia e crianças ricas

Conhecido pelas generosas doações à Fundação Bill e Melinda Gates e por encabeçar a lista dos bilionários dispostos a se desfazerem de parte da sua fortuna em vida o que já ocorreu, Warren Buffett sempre defendeu publicamente que os filhos de pessoas muito ricas não deveriam ter acesso irrestrito ao dinheiro.
No encontro anual da Berkeshire, ele bateu na tecla mais uma vez. Segundo Buffett, ser criado com tanta riqueza pode roubar os estímulos de uma criança. E se o rebento se torna improdutivo, a culpa deve recair sobre os pais. "Caso as suas crianças cresçam ricas e sem nenhum incentivo, eu acho que você não deveria apontar o dedo para elas, mas para si mesmo."

Sem comentários:

Enviar um comentário