quinta-feira, 15 de março de 2012

USAR E DEITAR FORA

Muito se tem escrito sobre a fraude que constitui a persistente tentativa do Governo e do patronato em equivaler “produtividade” e competitividade a mais horas de trabalho, à redução de férias e à eliminação de feriados, procedendo à completa desregulamentação do horário de trabalho. Pululam por aí “sumidades” que se entretêm a lançar “bitaites” sobre a grave situação que afecta grande parte da sociedade, sem darem conta do ridículo em que caiem. Há dias, calhou-me em “sorte” uma. Começou por lançar o barro à parede, que talvez, pela falta de chuva, saiu de má qualidade e, azar, não colou. Uma das tentativas dizia respeito à velha balela que os portugueses são os que menos trabalham na EU. Após tal desaforo, fui confrontado e convidado a conhecer os dados. É que os dados existem, são da insuspeita OCDE e confirmam a denúncia de fraude. Dos países que integram esta organização, A Grécia tem o segundo maior número de horas de trabalho anuais por trabalhador: 2017 horas. O primeiro com 2068, é o Chile. Portugal, 1714 horas, está muito à frente das 1408 horas da trabalhadora Alemanha ou das 1439 horas da França. Mas, o PIB produzido por hora trabalhada em Portugal é apenas 59,7% do valor correspondente na Alemanha e 55,5% do da França, (e o da Grécia 62,6% e 58,2%). O do Chile (35,8% e 33,2%). Ora, como é habitual nestas “sumidades”, à falta de argumentos dizem enormidades assim: “os trabalhadores que vocês dizem que trabalham, não fazem nada”…
Estava-se em plena rua, a obra do homem trabalhador estava ali, à frente dos olhos, com edifícios para habitação, comércio e milhentas actividades públicas e privadas, escolas, infantários, hospitais, jardins, pavilhões desportivos, espaços de bem-estar e lazer, além do que nas entranhas da terra penosamente se escavou para os cidadãos terem acesso a equipamentos fundamentais para a qualidade de vida, assim como o asfalto ou a calçada que calcorreamos, mais as viaturas e múltiplos equipamentos, fruto do avanço tecnológico e cientifico, e graças ao esforço arte e engenho dos trabalhadores, quase sempre mal renumerados. Não há dúvida, o maior cego é aquele que não quer ver…
Entretanto, um dia após Vítor Gaspar dar a sua versão da reunião com a TROIKA e da meta do desemprego para 2012 ser de 14,5%, os dados referentes a Janeiro atingem já 14,8%, com o perturbante número do desemprego jovem a atingir 35,4%. Afinal, como é?
Dados do Instituto Ricardo Jorge confiram o aumento de mortalidade. Em seis dias de fevereiro registam-se mais de 3000 óbitos e em duas semanas 6100 – a maioria das pessoas com mais de 65 anos – provavelmente associados “ ao período de frio e à circulação de agentes infecciosos respiratórios que ocorreu em simultâneo”. Embora se esperem explicações mais exactas, avança-se que carências diversas possam estar na origem do fenómeno. Tais como, parte da população não ter capacidade para aquecer as casas, para comprar medicamentos, para pagar taxas de saúde, ou mesmo para comprar alimentos. Afinal, fruto da acção de um Governo, que não hesita em lançar uma grande parte da população na miséria. Para o Governo, as pessoas são para usar e deitar fora.

Artigo de Carlos Vale publicado no Jornal Povo da Beira

Sem comentários:

Enviar um comentário