domingo, 18 de março de 2012

NOURIEL ROUBINI - A EUROPA MAS PRINCIPALMENTE OS PIGGS NO LIMITE

A taxa de crescimento potencial da zona euro (2%) é mais baixa que a dos Estados Unidos. Será difícil esta contrariar os efeitos da crise mesmo utilizando a política fiscal porque tem grande défices fiscais e grandes stocks de dívida pública proporcionalmente ao seu PIB em muitos casos perto ou acima de 100%. A UE além disso enfrenta sérios desafios a curto e longo prazo nomeadamente fraco crescimento de produtividade e populações envelhecidas. Nenhum destes problemas poderá ser resolvido facilmente.
Os PIGGS – Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha estão em sérias dificuldades, porque as suas dívidas subiram em flecha e a sua competitividade diminuiu. A adoção do euro permitiu-lhes contrair mais empréstimos e consumir mais do que teria acontecido noutras circunstâncias. O boom do crédito resultante apoiou o consumo, mas também deu origem à subida de salários. Isto tornou as suas exportações menos competitivas. Ao mesmo tempo a burocracia excessiva e outros impedimentos estruturais desencorajaram o investimento em sectores muito especializados, muito embora nestes países os salários fossem inferiores á média europeia. A resultante mistura nociva de grandes défices na balança de transações correntes e défices orçamentais deixaram os países PIIGS fortemente endividados a bancos de toda a Europa. Todos estão extremamente alavancados, o que os torna uma fonte provável de contágio financeiro. Pior a grande valorização do euro aumentou a perda de competitividade, deixando-os ainda mais vulneráveis ao incumprimento e ameaçando sobrecarregar os membros mais ricos e mais saudáveis da União Europeia. A Alemanha e outros países passaram uma década a reduzir os seus desequilíbrios fiscais e a melhorar a sua competitividade através da reestruturação empresarial. No entanto aconteceu o contrário na Itália, na Espanha, na Grécia e em Portugal, onde os desequilíbrios fiscais se mantiveram elevados e os custos de mão-de-obra subiram acima do crescimento de produtividade. Em consequência disso, temos agora duas Europas e não uma. O facto de a política fiscal estar nas mãos dos países individualmente limita o nível em que uma nação pode ajudar outra. Se estas divergências económicas persistirem e se agravarem, a união europeia monetária poderá quebrar-se. Qualquer estado membro que saia da união monetária e entre em incumprimento de dívidas detidas por outros Estados-membro poderá ser expulso da EU. Esse destino, inconcebível há alguns anos, tornou-se uma possibilidade muito real para os PIIGGS. Ano s de divergência económica e uma erosão de competitividade económica nestes países tornou esse desfecho muito mais provável que nunca. Estes países do Club Med (clube mediterrâneo) poderá entrar em incumprimento mais cedo do que se pensa, ameaçando a União Europeia e mergulhando potencialmente essas nações num caos do tipo que atingiu a Argentina em 2002 e a Islândia em 2008.

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