A crise do euro é vista geralmente como uma crise da
moeda, mas também é uma crise de dívida soberana e, mais ainda, uma crise
bancária. A situação é complexa. Os vários estados membros europeus formaram
pontos de vista muito diferentes e as suas políticas refletem os seus pontos de
vista mais do que os seus verdadeiros interesses nacionais. A solução que está
a ser implementada será, realmente ditada pela Alemanha, uma vez que sem o seu
crédito soberano nenhuma solução é possível. A Alemanha culpa pela crise os
países que perderam competitividade e aumentaram as suas dívidas e, por isso,
coloca todo o peso do reajustamento nos países endividados. Este é um ponto de
vista enviesado, que ignora não apenas o facto de que esta não é apenas uma
crise de dívida soberana, mas também uma crise monetária e bancária – e a
Alemanha é a maior responsável por essas crises. Quando o euro foi introduzido,
esperava-se que ele criasse convergência, mas em vez disso criou divergência. O
BCE tratou as dívidas soberanas de todos os Estados membros como isentas de
risco e aceitou-as na sua janela de desconto (Facilidades de crédito em que as
instituições financeiras vão receber fundos de um banco central, com taxa de
juro igual à taxa de desconto do banco, geralmente em troca de garantias, para
aliviar a pressão dos mercados. Ajuda a resolver o problema de liquidez dos
bancos e contribui para assegurar a estabilidade dos mercados financeiros) com
condições iguais. Os bancos que foram obrigados a possuir ativos isentos de
risco para preencher os seus requisitos de liquidez foram induzidos a encher-se
de dívida dos países mais fracos para ganhar uns pontos base extra. Isto baixou
as taxas de juro em Portugal, na Irlanda, na Grécia, em Itália e em Espanha e
gerou bolhas imobiliárias- ao mesmo tempo que a Alemanha tinha de apertar o
cinto para lidar com os custos da reunificação. O resultado foi uma divergência
na competitividade e uma crise bancária que afetou os bancos alemães mais
fortemente que os outros bancos. Verdade seja dita que a Alemanha tem vindo a
resgatar os países altamente endividados para proteger o seu próprio sistema
bancário. Estas medidas fazem lembrar as da crise bancária internacional de
1982, quando as instituições financeiras emprestaram aos países endividados
dinheiro suficiente para o serviço das suas dívidas até que os bancos
conseguissem reunir reservas suficientes para trocarem as suas «dívidas más»
por títulos (Brady Bonds) em 1989. Isto gerou uma década perdida para a América
Latina. Efetivamente as medidas atuais penalizam os países endividados ainda
mais do que nos anos 80, porque estes terão que pagar prémios de risco
significativos depois de 2013. Como resultado a União Europeia vai sofrer algo
pior do que uma década perdida; vai enfrentar uma divergência crónica na qual
os países com excedentes avançam enquanto os países com défice são arrastados
para o fundo com o fardo das dívidas acumuladas, Os requisitos de
competitividade serão impostos num campo de jogo desequilibrado, colocando os
países com défice numa posição insustentável.
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